sexta-feira, 2 de setembro de 2011

V Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade



Surgiu a ideia de falarmos sobre o V Seminário Corpo, Gênero e Sexualidade, em que participamos de 25 a 27 de agosto na FURG

Uma das primeiras coisas surpreendentes fora a questão do público. Havia estudantes de várias universidades e dos mais diversos cursos, contudo, a maioria voltados às ciências humanas e da informação e, dos alunos da FURG a maior parte eram do curso de Educação Física. Pensava eu que pela questão do “corpo”, porém eles estavam envolvidos e inseridos no seminário como um todo, participando dos vários eixos e inseridos em outras atividades. Achei uma pena que somente uma área especifica de uma infinidade de cursos oferecidos pela FURG estivesse envolvida com temáticas que eu acredito serem indispensáveis. Nós (estudantes de psicologia) estudamos o “corpo” e algumas vezes tocamos em temas de gênero e sexualidade, mas de maneira transversal e basicamente quando estes são trazidos pelos alunos. Esses ainda são temas tabu, os quais os próprios professores sentem-se desconfortáveis em abordar, o que me leva a segunda questão. 

A maneira como os diversos pensadores abordavam esses temas tabu, de forma tão natural, aberta, crítica. Pessoas discutindo transsexualidade e “travestismo” de maneira séria, respeitosa e através de novas perspectivas. Foi impressionante e para muitos emocionante. As primeiras apresentações as quais assisti, foram no eixo 7, intitulado: “Heteronormatividade, heterossexismo e homofobia no cotidiano escolar”. Pois bem que na fala do mediador, me pareceu que ele esperava que os ouvintes fossem basicamente homossexuais (já pelo direcionamento dos temas), o que aconteceu de serem maioria, porém estavam ali muitos heterossexuais interessados nas temáticas e isso é enriquecedor, porque sexualidade não é um tema de orientações sexuais, é MUITO mais amplo que isso. 

Além disso, este seminário foi praticamente voltado à questões da educação, e me pareceu que somente o curso de educação física toca no que concerne a algumas destas questões de Corpo Gênero e Sexualidade. Sei que o curso de História tem uma cadeira sobre “questões de gênero na historia” e que a FURG tem 1 ou 2 grupos sobre sexualidade. Mas de acordo com o que nós vimos com relação a falta de conhecimento dos indivíduos que foram sujeitos das mais diversas pesquisas apresentadas neste seminário (principalmente professores), faz-se necessário a implementação desses temas tanto no currículo escolar quanto no acadêmico (tema também discutido em alguns trabalhos). Não precisamos de mais espaços específicos para discutir estes temas, precisamos que eles sejam cotidianos, que façam parte do dia-a-dia, da reflexão das pessoas, que haja informação. Para que a proposta deste blog não permaneça dentro destas “paredes” virtuais, e sim para que seja aberto um espaço na “mente” das pessoas, para que as idéias entrem e elas sejam “livres” pra pensar sobre isso e realmente o façam. (Ana Carolina Paes)


No 1º dia foi disponibilizada uma pequena sala para a apresentação dos trabalhos do Eixo 7. Não sei se já foi com a intenção de esperar menos pessoas do que em relação aos outros eixos, mas ocorreu exatamente o oposto. O local ficou lotado e as pessoas estavam começando a formar uma fila do lado de fora, sendo necessário pegar mais cadeiras das outras salas. Portanto no 2º dia, fomos levados para uma nova sala, dessa vez um tanto maior e capaz de acomodar à todos. Ironicamente este ocorrido serve como uma boa analogia para a situação social atual.

O tema da homofobia e da heteronormatividade vem cada vez mais ganhando espaço, a ponto de render fervorosas discussões onde quer que ocorram. E tais discussões tem de ser levantadas e não somente dentro do meio acadêmico. É crucial o trabalho dos núcleos de pesquisa, assim como trabalhos de mestrado e doutorado, porém hoje a prática dos mesmos se torna mais urgente e necessária. 

A maioria dos trabalhos desse eixo eram voltados para a área da educação e pude notar um certo receio e até mesmo uma resistência por parte dos educadores à respeito da intervenção de outros profissionais. Como estudante de Psicologia, irei sempre defender a interdisciplinaridade, tanto dentro do ambiente escolar como de qualquer outro responsável pela saúde humana. 

Enfim, meu objetivo não era falar sobre os trabalhos apresentados e como foram de extrema importância e imensamente educativos. Mas sim, falar sobre a última palestra do 2º dia, entitulada de ‘Histórias Narradas, Histórias Vividas’. Desprendidas de termos técnicos, autores, metodologias, e toda a pompa geralmente presente em apresentações acadêmicas, Cintia Du Vall e Marina Reidel emocionaram e educaram muito mais do que o esperado.

Mulheres, corajosas e transexuais. Marina é professora e Cintia é técnica em Informática e acadêmica do curso de Engenharia de Computação. Possuem histórias de vida completamente distintas mas se assemelham na determinação e na coragem de assumir  quem são. Mesmo com o pouco tempo que tinham, contaram seus momentos mais tristes assim como suas conquistas. Marina, antes da transformação, temia perder o emprego. Apesar de ainda sofrer preconceito conta com o dos alunos e da escola, onde acabou se tornando uma espécie de confidente para os jovens. Cintia enfrenta os desafios de ter escolhido uma profissão predominantemente masculina. Ela conta que os pais e o irmão a aceitam, mas continuam a chamá-la por seu nome antigo e a tratá-la por termos masculinos.

Cintia se considera um caso não muito comum entre os transexuais e que segundo ela foi particularmente difícil de lidar. Ela é uma transexual com identidade de gênero feminina e orientação sexual homossexual. Para quem não sabe, o gênero não determina a identidade e a orientação sexual. Gênero é o sexo biológico da pessoa. Identidade de gênero é a convicção interna de uma pessoa de ser do sexo masculino ou feminino. E orientação sexual é a atração sexual e afetiva que a pessoa sente por outros indivíduos. Ou seja, há diversas possibilidades de combinações, mas todas são válidas e merecem respeito incondicional.

Ao ouvir a fala das duas, é impossível não se sentir igualmente sensibilizada e revoltada com o preconceito sofrido diariamente. Sabe-se que a maioria dos transexuais vivem à margem da sociedade, praticamente forçados a sobreviver do mercado sexual. Muitos são espancados, humilhados e assassinados, simplesmente por não corresponderem aos valores de uma sociedade heteronormativa.

Se torna cada vez mais urgente a criação de políticas públicas, projetos e campanhas com o objetivo de esclarecer e educar a população e pôr um fim à ignorância e intolerância das pessoas. É preciso entender que antes de ser homo, hetero, bi ou trans, somos seres humanos em primeiro lugar. Não cabe à sociedade julgar quais formas de vida estão corretas e quais merecem respeito ou aceitação. Não cabe ao governo ceder à pressões de terceiros para impedir os direitos de uma parcela da população, negando assim sua cidadania. Mas cabe a nós não nos conformarmos com essa realidade. Como disse Camus: “A juventude é sobretudo uma soma de possibilidades.” (Rafaela Torino)

2 comentários:

  1. Não participei desse post e só li o texto completo no 'ar'. Poderia soar suspeito meus elogios ao post das gurias, mas de tão bom que achei também não poderia deixar de comentar. Parabéns.

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  2. Sou professora de Filosofia e procuro levar essa discussão para minhas alunas e alunos. Participei dos Encontros de 2010 e 2011, ambos de excelente qualidade. Destaco a mesa comentada pelas gurias e parabenizo pela clareza e posicionamento. Parabéns! GISANE

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