terça-feira, 25 de outubro de 2011

Cotas, por quê?


Assunto muito debatido há alguns anos é o sistema de cotas raciais como forma de inclusão social. Grande parte das vezes, entretanto, o debate gira em torno de argumentos pouco fundamentados além pouco se entender sobre as razões que levaram e mantém a exclusão e que fazem necessário algum tipo de intervenção, concordemos ou não com as cotas.

O sistema de cotas é um “reparo” aos anos de escravidão a que os negros foram submetidos no Brasil, sendo a eles, neste período, negado alguns dos direitos mais fundamentais da condição humana.

Como se sabe, os negros eram capturados (geralmente separados de suas famílias) em África e transportados (em situações precárias) até o Brasil para que (os que sobrevivessem à viagem) aqui exercessem o trabalho escravo. A chegada dos primeiros negros para o trabalho escravo se deu ainda no século XVI. A abolição só se deu quase 340 anos depois e neste período exercia trabalhos forçados, era torturado, não tinha direito a liberdade, a salário ou a educação.

A abolição, da forma como se deu, não foi inclusiva. Esta visava muito mais atender a interesses financeiros do que uma consciência da desumanidade do regime escravista. Desta forma a lei Áurea libertou, mas não incluiu, transformando negros ex-escravos e negros marginalizados. Continuava o negro sem acesso a educação, terras ou emprego. O samba Mangueira, de 1988, retrata bem o quadro: “... Pergunte ao criador quem pintou essa aquarela; Livre do açoite na senzala; Prezo na miséria da favela...”.

O quadro pintado entre os séculos XVI e XIX (sim, a história do Brasil tem mais tempo na escravidão do que após a mesma) pode ser visto ainda hoje. Pesquisas revelam que 64% dos pobres são negros, sendo o percentual de negros na população Brasileira de 45,4. Além disso, pesquisa de 2003 mostra que 43% da população negra encontra-se abaixo da linha da pobreza.

Através do acesso a educação o sistema de cotas visa a redução desta desigualdade que, no Brasil, se confunde social e racialmente. Esta desigualdade, como tentei demonstrar, tem origens históricas e, concordemos ou não com o sistema de cotas, deve, de alguma forma, ser combatida.

Recomendo leitura: http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=19978 .

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mulheres Pela Paz

2011, foi declarado pela ONU como o Ano Internacional da Química e das Florestas. Mal sabiam eles que seria o ano das greves, das redes sociais e das “revoluções” no oriente... 

A declaração da ONU me lembrou da física nuclear polonesa Marie Curie, que foi a primeira mulher a receber um Nobel, em 1903.  E também a única mulher até hoje a receber um segundo prêmio Nobel - o de Química, em 1911.

Apesar disso, a presidente da Libéria, Ellen Johnson-Sirleaf e as ativistas Leymah Gbowee e Tawakul Karman ganharam o prêmio Nobel da Paz 2011, pela "luta não violenta pela segurança e os direitos das mulheres para participar plenamente das tarefas de pacificação".

O prêmio Nobel da Paz segundo  Alfred Nobel, deveria distinguir "a pessoa que tivesse feito a maior ou melhor ação pela fraternidade entre as nações, pela abolição e redução dos esforços de guerra e pela manutenção e promoção de tratados de paz".

Ao contrário dos outros prémios Nobel, o Nobel da Paz pode ser atribuído a pessoas ou organizações que estejam envolvidas num processo de resolução de problemas, ao invés de apenas destacar aqueles que já atingiram os seus objetivos em alguma área específica (como os outros premios), o que não desmerece outros premios, mas faz deste um prêmio com características próprias.

Desde 1901, de um total de 851 premiações, somente 44 foram destinadas a mulheres, sendo que destes, somente 15 mulheres foram contempladas com prêmios Nobel da Paz, ao que podemos incluir as 3 novas ganhadoras, Ellen Johnson-Sirleaf, Leymah Gbowee e Tawakul Karman. Todas envolvidas em questões relativas aos direitos humanos, direitos das mulheres e pela paz, das quais provavelmente você só ouviu falar da Madre Teresa de Calcutá.

Os membros do júri acrescentaram: não se pode alcançar "a democracia e uma paz duradoura no mundo até que as mulheres obtenham as mesmas oportunidades que os homens para participarem do desenvolvimento social em todos os níveis".

Leymah Gbowee disse que as mulheres não devem esperar salvadores. "Não esperem por (Nelson) Mandela, não esperem por (Mahatma) Gandhi, não esperem por (Martin Luther) King. Vocês têm que ser seu próprio Mandela, seu próprio Gandhi, seu próprio King".

Umas das ganhadoras, conhecida como "dama de ferro", Ellen Johnson-Sirleaf (presidente da Libéria), foi a primeira mulher eleita chefe de Estado de um país africano, nós também temos uma presidente mulher, mas o que isso significa para o nosso país e para o mundo? 

Ana Carolina Paes

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Em busca de sentido



Em sua obra ‘Em busca de sentido’, Viktor Frankl não tem como objetivo apenas relatar os horrores vividos como prisioneiro de um campo de concentração mas também descrever as vivências dos refugiados, analisando tanto seus aspectos físicos quanto psicológicos. Médico e psicólogo, o autor tenta entender o que motiva um refugiado à lutar ou desistir de sua própria vida frente à tanto sofrimento e constante falta de esperança. Tal interesse resulta na criação da logoterapia, ou seja, terapia criada por Frankl voltada para o sentido da vida, com foco no futuro.
Durante todo o período em que esteve sob o domínio alemão, Frankl por diversas vezes chegou muito perto da morte. As seleções feitas para separar os homens aptos para o trabalho dos quais não o eram, sendo esses mandados imediatamente para as câmaras de gás; a fome e o frio constantes; condições de higiene deploráveis; maus tratos, como espancamentos e humilhações; doenças e epidemias; trabalho forçado em condições subumanas que levavam à exaustão; enfim, foram inúmeras as situações as quais causaram o extermínio de milhões de judeus e que quase fizeram de Frankl parte da estatística.
A criação da logoterapia só se deu após Frankl ter conseguido sua liberdade, mas pode-se notar durante toda a obra diversos aspectos que são abordados em sua teoria, assim como lições que podem ser levadas para a vida toda, tanto no aspecto pessoal como no profissional.
Uma das primeiras coisas que Frankl conclui durante as primeiras semanas de trabalho forçado, fome e frio, é de que o homem é um ser completamente adaptável. Por mais extremas que sejam as circunstâncias, como por exemplo um campo de concentração, o corpo humano é perfeitamente capaz de se ajustar a qualquer realidade de forma que possa sobreviver às condições mais adversas possíveis, podendo surpreender a si próprio. Uma das estratégias de defesa da mente humana é se retirar daquela situação, entrar em uma espécie de negação sobre a gravidade de suas condições, demonstrando apatia devido à falta de perspectiva positiva em relação à vida. O humor negro também é algo presente uma vez que a vítima se torna insensível e até mesmo indiferente com o que acontece à sua volta. 
Outro aspecto considerado muito importante pelo autor para sua sobrevivência foi a crença de que havia uma vida o esperando fora do campo. Essa consciência, segundo Frankl, gera uma força interna inigualável e sem dúvida foi um dos fatores determinantes para aqueles que conseguiram sair com vida de tamanha tragédia.
A logoterapia tem como fundamento principal a busca do sentido como força primária da vida de um indivíduo. Vida esta não constituída apenas de alegrias mas também de aflições, tormentos e tensões que só serão lidados de forma saudável e consequentemente superados se o indivíduo atribuir um significado à sua vida. A ausência de perspectiva e objetivos para o futuro fazem com que a pessoa desvalorize sua existência, o que a levará ao abandono de qualquer forma de sobrevivência. A ideia de que nossas vidas deveriam apresentar uma espécie de homeostase é perigosa, segundo Frankl, pois remete à uma vida sem conflitos e isso não é precedente de saúde mental.
Ter a consciência de que a vida possui momentos de crise e que isso não só é natural mas também necessário, é essencial para que a pessoa construa seus próprios métodos de enfrentamento para cada obstáculo que venha a enfrentar. Isso a torna responsável por si própria, capaz de superar dificuldades e de até mesmo ajudar o próximo a fazer o mesmo. Segundo Frankl, o ser humano sempre vai em direção à outro e precisa desse contato para que sua existência não se restrinja à apenas si próprio. Enfim, a leitura da obra pode não ser considerada leve por abordar temas perturbardores como os abusos presentes em um campo de concentração, mas é válida pela riqueza da experiência. É impossível não se deixar “contaminar” pela força e determinação inspiradoras do autor.