quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Em busca de sentido



Em sua obra ‘Em busca de sentido’, Viktor Frankl não tem como objetivo apenas relatar os horrores vividos como prisioneiro de um campo de concentração mas também descrever as vivências dos refugiados, analisando tanto seus aspectos físicos quanto psicológicos. Médico e psicólogo, o autor tenta entender o que motiva um refugiado à lutar ou desistir de sua própria vida frente à tanto sofrimento e constante falta de esperança. Tal interesse resulta na criação da logoterapia, ou seja, terapia criada por Frankl voltada para o sentido da vida, com foco no futuro.
Durante todo o período em que esteve sob o domínio alemão, Frankl por diversas vezes chegou muito perto da morte. As seleções feitas para separar os homens aptos para o trabalho dos quais não o eram, sendo esses mandados imediatamente para as câmaras de gás; a fome e o frio constantes; condições de higiene deploráveis; maus tratos, como espancamentos e humilhações; doenças e epidemias; trabalho forçado em condições subumanas que levavam à exaustão; enfim, foram inúmeras as situações as quais causaram o extermínio de milhões de judeus e que quase fizeram de Frankl parte da estatística.
A criação da logoterapia só se deu após Frankl ter conseguido sua liberdade, mas pode-se notar durante toda a obra diversos aspectos que são abordados em sua teoria, assim como lições que podem ser levadas para a vida toda, tanto no aspecto pessoal como no profissional.
Uma das primeiras coisas que Frankl conclui durante as primeiras semanas de trabalho forçado, fome e frio, é de que o homem é um ser completamente adaptável. Por mais extremas que sejam as circunstâncias, como por exemplo um campo de concentração, o corpo humano é perfeitamente capaz de se ajustar a qualquer realidade de forma que possa sobreviver às condições mais adversas possíveis, podendo surpreender a si próprio. Uma das estratégias de defesa da mente humana é se retirar daquela situação, entrar em uma espécie de negação sobre a gravidade de suas condições, demonstrando apatia devido à falta de perspectiva positiva em relação à vida. O humor negro também é algo presente uma vez que a vítima se torna insensível e até mesmo indiferente com o que acontece à sua volta. 
Outro aspecto considerado muito importante pelo autor para sua sobrevivência foi a crença de que havia uma vida o esperando fora do campo. Essa consciência, segundo Frankl, gera uma força interna inigualável e sem dúvida foi um dos fatores determinantes para aqueles que conseguiram sair com vida de tamanha tragédia.
A logoterapia tem como fundamento principal a busca do sentido como força primária da vida de um indivíduo. Vida esta não constituída apenas de alegrias mas também de aflições, tormentos e tensões que só serão lidados de forma saudável e consequentemente superados se o indivíduo atribuir um significado à sua vida. A ausência de perspectiva e objetivos para o futuro fazem com que a pessoa desvalorize sua existência, o que a levará ao abandono de qualquer forma de sobrevivência. A ideia de que nossas vidas deveriam apresentar uma espécie de homeostase é perigosa, segundo Frankl, pois remete à uma vida sem conflitos e isso não é precedente de saúde mental.
Ter a consciência de que a vida possui momentos de crise e que isso não só é natural mas também necessário, é essencial para que a pessoa construa seus próprios métodos de enfrentamento para cada obstáculo que venha a enfrentar. Isso a torna responsável por si própria, capaz de superar dificuldades e de até mesmo ajudar o próximo a fazer o mesmo. Segundo Frankl, o ser humano sempre vai em direção à outro e precisa desse contato para que sua existência não se restrinja à apenas si próprio. Enfim, a leitura da obra pode não ser considerada leve por abordar temas perturbardores como os abusos presentes em um campo de concentração, mas é válida pela riqueza da experiência. É impossível não se deixar “contaminar” pela força e determinação inspiradoras do autor.

Um comentário:

  1. Sempre achei que enfrentar problemas tendo em vista a calmaria, ou até mesmo a satisfação futura de ter superado tornava o percurso de enfrentamento muito mais fácil.
    Não sei o filme em si que é muito bom, ou o texto que foi muito bem escrito; de qualquer forma, ler o post me instigou a assistir. Inclusive acho que qualquer ponto relacionado à II GM tem muito para ser analisado e refletido, várias óticas distintas e interessantes de se ver as coisas.
    Parabéns a vcs pelo blog ^^

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